quinta-feira, 12 de março de 2009

Rita Lavoyer

" Se algumas mulheres evoluírem um pouco na sua visão ,meu trabalho vai ter sido muito recompensado!" (...) palavras da professora Rita Lavoyer na reunião de 10 anos do Grupo Experimental na AAL , falando sobre seu projeto " Mulheres", que esta sendo publicado na F.R.
Sua experiência e clareza transmitida tem sido de grande competência. O texto de hoje, porém...
Pode parecer apenas uma história, um drama, um faz de conta, Mas é a realidade intermitente que acontece dia após dia e deixou-me emocionada, pois sempre respeitei muito minha sogra e fico feliz de participar da mesma visão da Rita. (Sylvia)
Coluna "Mulheres" Jornal Folha da Região - 12 03 2009

Hoje ela é sogra, mas é de uma época mais antiga. Quando se casou, levou junto um diploma, pois fora ele a razão de seu matrimônio tardio. Numa época em que à mulher eram dadas poucas oportunidades profissionais, ela não se abateu. Foi à luta e conquistou o seu espaço. Era moderna ao seu tempo. O filho demorou a vir, o marido, já envelhecido não o viu formado, não houve tempo; ela, sozinha, fez as vezes de pai e mãe. Eram os dois, filho e mãe em um só, ambos se completavam na ausência daquele que se foi deixando-os na saudade.
E ele veio. O amor veio ao encontro do filho que ela tanto amava. Ela ficava feliz por ver o amadurecimento dele e a vaidade à tona sempre que tinha um encontro marcado com a namorada. Ela, a namorada, veio conhecê-la. O olhar da mãe procurou o daquela moça, mas não o encontrou. O frio daquelas veias penetrou o corpo daquela mãe presente.
Cabia-lhe opinar a respeito da moça para o filho tão apaixonado? Como soariam suas palavras aos olhos daquele coração tão cheio de amor? Calou-se e deixou que o tempo produzisse o seu efeito. O filho marcou a data com aquela moça, formariam família agora. Ela ficaria. A mãe ficaria em sua casa, pois ao filho cabe bater as asas.
Ele se foi deixando numa sala uma mulher completamente sem fala. Demorou visitá-la. Era costume dela deixar a porta destrancada para o filho sempre entrar sem precisar bater. Encontrou-a mais envelhecida num silêncio que destoava com o ranger de sua cadeira de balanço que lhe possibilitava dormir com a cabeça pendida sobre um dos ombros.

_ Mãe? Acorda mãe. Sou eu.
Ele a beijou na testa e o calor do contato fez com que ela acordasse daquele sono de saudade.
Veio sozinho, a esposa não o acompanhou à visita, mas mandou lembranças àquela senhora. A visita foi rápida e, mais uma vez, deixou, naquela sala, uma mulher completamente sem fala. A distância entre os dois foi aumentando e a mãe já não podia falar dela para o filho e nem o filho, sobre ele, à mãe.
Ele voltou um dia para visitá-la, mas bem antes dele vieram as doenças da solidão. Doenças e filho não se entenderam, elas ficaram com a mãe; o filho, foi embora.
O tempo passou muito rápido e um neto ela poderia ver. Mas não iria vê-lo, a visão também resolveu deixá-la. O filho levou aquela mãe para algum lugar onde alguém cuidaria dela. O tempo passou mais rápido ainda. Quando foram buscá-la o neto já andava e falava muito bem.
_ Ela não está mais entre nós. Tentamos avisá-los, mas não os encontramos.
_ Fomos viajar, minha mãe queria aproveitar os últimos dias da vida dela antes que a minha avó viesse morar com a gente. Pai! Avisa a mamãe que ela pode começar a viver de novo, porque a vovó morreu.
Àquele filho, agora pai, não restou mais nenhuma oportunidade de beijar a testa daquela que fora a sua mãe.
Obs. Não se deixe dominar por esta nora cruel que reside dentro de você. Se hoje é uma mulher, melhor do que era antes, pois casou-se com um homem que a ajuda, não acha que deve agradecer a ela, sua sogra, pelo filho que ela te entregou? Eu já estou me corrigindo.

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